Entrevista publicada originalmente no Bnu Punx, feita por Luís. Respondida quase toda por Vinicius.

1. Nos agradecimentos do Cd vocês falam sobre os obstáculos para manter a banda. Uns de vocês moram em Guarapuava e outros em Curitiba. Por que vocês montaram essa banda e por que continuam a tocar, mesmo com essas dificuldades de morar em cidades diferentes, etc?

Não tem quem não fale de obstáculos, não é? Mas isso pode soar tão relativo que por vezes parece só mais um amontoado de desculpas nessa onda das pessoas reclamarem de tudo e achar que elas estão nas piores situações do mundo. Eu vejo assim, em relação à banda, temos uma parte prática da coisa toda que são os empregos, os estudos, a distância e as “obrigações” em geral. E isso realmente dificulta, tanto para ensaios, como para criação ou mesmo encontros para responder entrevistas. Mas perceba que não é nenhuma novidade. A questão principal é a vontade de organizar-se e dar prioridades para o que consideramos importante em nossas vidas. Mesmo que nos sintamos com frequencia os perdedores contra os obstáculos, há também a certeza de uma chama que coloca a banda em posição favorável para falarmos “bem, vale a pena deixar de lado outras besteiras para apostarmos nessa aqui também”.

2. Eu lembro de vocês, em 2009, falando nos shows que estavam gravando o disco e agora finalmente ele saiu. Como foi o esquema da gravação do disco e por que demorou tanto pra sair?

Nós gravamos em Guarapuava o álbum em um estúdio de amigos. Foi o primeiro trabalho deles e sei que eles também ficaram com aquele sentimento do filho vindo ao mundo. Mas responder por que demorou tanto pra sair é realmente difícil. Talvez faça parte do ritmo em que conseguíamos nos empolgar. De toda forma, tenho a impressão que ficou a lição: Nunca mais nos enrolar tanto!

3. A minha música preferida do disco é “Nenhum Brilho”. Não sei se eu entendi direito, mas ela parece falar sobre a os problemas dos pais e a influencia dos pais nas vidas de vocês. Foi a ideia que me veio… Vocês podem falar um pouco sobre a letra dessa música?

Acho bem interessante ouvir isso, pois me faz pensar naquela coisa de que a partir do momento em que o que tu escreve é exposto, não pertence mais somente à ti, se abre um leque de possibilidades nas palavras. Admito que eu mesmo já pensei nessa letra em outros termos bem distantes do que originalmente ela foi escrita. Mas enfim, vamos lá: Eu tinha visto um caso de uma mãe de apenas 21 anos que já carregava cinco filhos. Um desses filhos nasceu de um estupro. Os outros eram com o ex marido que não se tinha mais notícias. Nem precisa dizer que a mulher era extremamente pobre, certo? Quer dizer, se a gente pensar num quadro do que é a pobreza e a violência em todos os sentidos, notamos que existe um cenário desolador. Sabe quando se fala em luta de classes? A gente sabe como é gigantesco o problema e as teorias e discussões podem mesmo mudar rumos, influenciar para sairmos do lugar, mas nem sempre se faz sentir esses olhares que estão lá embaixo naquela pirâmide que o professor mostrou, sobrevivendo no dia a dia, sem direitos básicos, sem perspectivas. Acho que é uma tentativa de dar voz à indivíduos, gerar reflexão para que se entenda que só falar de estatísticas é irreal. É preciso sentir e mais do que isso, agir.

4. Mesmo antes do disco sair, vocês vinham tocando bastante. Eu, particularmente, pude ver alguns shows de vocês (Squat J13, Verdurada de Curitiba e mais recentemente o lançamento do disco em Guarapuava e o show com o Sin Orden em Florianópolis). Como está o esquema de shows e como vocês se organizam pra isso? Como viajam? Como custeiam a banda?

Felizmente aparecem convites e oportunidades e outras vezes nós mesmos fazemos acontecer os shows na organização. O que ainda, de fato, não aconteceu, foi uma disposição para que conseguíssemos programar turnês em lugares mais distantes, mas isso continua em mente. Claro, aí caímos nas questões dos obstáculos mundanos, começando por tempo e dinheiro, que normalmente sai do nosso bolso. Cada um ajuda dentro da sua possibilidade no momento em questão.

5. Quais as principais influencias de vocês na hora de fazer as músicas e letras? O que vocês tem ouvido/lido/assistido?

Carlos (guitarrista): tenho ouvido mais bandas que tocam punk na linha do Wipers (The Estranged, Sedatives, White Lung), post-punk e coisas do gênero, acredito que algumas destas bandas estejam nos ajudando a traçar uma linha de som um pouco diferenciada do primeiro album. Já na parte de literatura, há pouco tempo atrás li “Bakunin – Textos Anarquistas”, que por sinal preciso devolver para o Thiago.

Ultimamente tem rolado composições iniciadas entre eu e o Carlos e eu vejo que sonoramente temos nos entendido sobre onde estamos querendo chegar, explorando mais a guitarra, procurando um clima… ou, bem… eu juro que não sei explicar com palavras. Estive lendo há pouco sobre visões libertárias de sexualidade, também sobre lutas armadas de camponeses no Brasil, sobre criações de padrões lingüísticos historicamente, entre outras coisas… Mas acho que isso serve só de curiosidade mesmo, não? Sabemos que um tropeço/problema do dia a dia que gera um conflito interno pode se transformar em muito mais inspiração. É preciso aproveitar os momentos e produzir. Uma parte dessa produção acaba saindo em letras, que são compartilhadas com a banda.

6. O que é o “Faça Você Mesmo” pra vocês? Como vocês veem a aplicação desta ética/forma de produzir na cena ou cenas que vocês, de alguma forma, participam em Guarapuava/Curitiba?

Carlos: Acho que o “Faça Você Mesmo” aproxima mais quem está envolvido/vai nos rolês. Não existem especialistas, não é necessário dependermos da boa vontade ($$$) de alguém. O sentimento de você mesmx correr atrás, organizar, convidar os amigxs, ver o pessoal se divertindo, aproveitando, vale mais a pena do que um cachê de um empresário que mal sabe o teu nome.

Vinicius: É isso. E além de tudo, eu vejo como uma rejeição de modelos de organização impostos ou empurrados à nossas vidas. É fazer de outra maneira, é resistir. O hardcore/punk não pode ser revolucionário em si mesmo, se levarmos em conta o uso tradicional desse termo, mas esse sentimento de rejeição à padrões (e aqui caberia uma crítica aos ‘nossos’ padrões) é ao menos um bom início para aplicarmos nós mesmos as ações, buscar a horizontalidade, o respeito e o apoio mutuo em diferentes campos, o que na minha visão é vital, se buscamos verdadeiras mudanças nessa porcaria toda.

7. Quais as atividades que vocês desempenham além da banda?

Carlos: Estudo ciência da computação e procuro emprego. Vinicius: Trabalho como professor de história e sociologia. Toco em vários outros projetos, faço parte de coletivos de ações políticas. O Thiago também estuda ciência da computação e trabalha nessa área. Já o Ramon estuda e trabalha na área de Educação física.

8. Caras, obrigado pela entrevista. Espero que vocês sigam tocando, consigam gravar outras coisas e fica aí o espaço pra falar o que mais for necessário. Obrigado!

Luís, nós é que agradecemos o espaço, de verdade. A gente espera mesmo gravar mais coisas, fazer muito mais shows e principalmente que as palavras aqui possam nos aproximar de pessoas que estejam a fim de compartilhar alguma coisa, construir juntos, quem sabe tomar uma limonada ou falar sobre outras bandas horríveis. Um grande abraço. Até breve.

Final de Julho!

07/07/2012

Mini micro tour de inverno. Nos vemos!

– Onde Eu Me Encaixo? – http://ondeeu.bandcamp.com
– Vou Cuspir No Seu Tumulo. http://vcnst.bandcamp.com

+ Amostra e bate-papo sobre produção de fanzines.
+ Quitutes Veganos servidos à mesa aos participantes.

18 hrs
5$
21/07/2012
Guarapuava-PR
Garagem da Rrrraquel.

A contribuição de 5$ é para ajudar nos dois próximos shows do ‘OEME?’ e também para a preparação do rango. Se mais pessoas quiserem expor fanzines e materiais independentes, será bem vindx. Entrem em contato.

Blumenau 28/07/2012

07/07/2012

1ª Fruturada!- Deaf Kids – com seu belo Hardcore/punk/crust reverbado no talo – Volta Redonda/RJ http://deafkidspunx.bandcamp.com/
Onde Eu Me Encaixo? – Punk contagiante e dançante – Guarapuava/PR – http://ondeeu.bandcamp.com/
Holodomor – Pós-Punk politizado que não te deixara parado – Curitiba/PR – http://obricoleur.bandcamp.com/album/holodomor
Amigos de Jesus – Pop Rock de satanás – Blumenau – myspace amanha!
A Outra face – Hardcore esquizofrênico – Blumenau – Bandcamp amanha!

+ Debate: Bate papo sobre Direito/Liberação Animal e Nutrição Vegan
+ Lançamento do livro ‘Câmera Lenta’ de Cristiano Onofre (RJ) + bate-papo sobre arte marginal

Entrada: 5 Reais + uma fruta(que esteja no estado ‘consumível’) ou 10 reais sem fruta.

* Salada de fruta para todos no final do evento!
* Local do evento Surpresa! Em breve divulgamos!

Dúvidas, sugestões, ameaças de morte? Aqui: fruturada@yahoo.com.br

Curitiba 29/07/2012

03/07/2012

+ Campbell trio
+ Deaf Kids
+ 2portas
+ Better Leave Town

Curitiba 20/01/2012

14/01/2012

Guarapuava 23/12/11

23/12/2011

+ rango vegano
preço sugerido 5$

Casa do Thiago
Rua das Camélias, 10. Trianon. Guarapuava – PR

Saiu uma pequena resenha do nosso album  nesse blog bacana AQUI, que vale a pena visitar!

Segue o texto:

Onde Eu Me Encaxio? is a hardcore/punk band from Guarapuava, Parana, Brazil who play a great style of hardcore/punk that’s diverse and a bit hard to pin down. The band’s name translates to Where Do We Fit In in Portugeese. Onde Eu Me Encaxio cite a diverse list of influences including Wipers, Minutemen, Black Flag, and Husker Du. On Onde Eu Encaxio’s debut self titled LP released in July 2011, the influences show and I’d also say that the band is also influenced by more discordant sounding bands such as Hot Snakes, Drive Like Jehu, Fugazi, and At The Drive-In. Overall, the nine songs on Onde Eu Me Encaixo’s debut LP make for a great listen. Do yourself a favor and give this album a listen. Great stuff!

Entrevista

08/09/2011

Olá pessoal, segue uma entrevista feita pelo nosso amigo Gustavo, que foi publicada no periódico de agosto de 2011 do CCA J13 de Curitiba.

1.Olá turma , pra mim é complicado entrevistá-los, porque é quase como uma auto-entrevista, mas vamos lá! Contem-nos como surgiu a idéia da banda, da estética, das músicas, integrantes, nome da banda? Tem integrante novo?

R: A ideia surge do Vinicius e do Thiago que repensam algumas experiências passadas e decidem apostar em fazer uma banda com uma afinidade política mais latente. Com isso em mente, convidamos a Hanna para a guitarra e ela chamou um dia o Ramon para vir ao ensaio e ele nunca mais foi embora, foi o ‘encaixe’ perfeito. Em 2008 durante o carnaval revolução demos um passo maior para dar forma ao projeto junto com vocês do j13 e o pessoal do rio, lembra? Seriam três bandas com pegadas parecidas. Aquela empolgação foi um grande impulso para nós. No início, aliou-se à isso o fato do Vinicius nunca ter tocado bateria, então a proposta dele era fazer algo que desse conta de tocar e assim foi. O nome surge depois de várias propostas, ‘onde eu me encaixo?’ vem de um som do betercore, ‘where do i fit in?’. Pois bem, depois da Hanna na guitarra, tivemos o Lauri e exatamente hoje, fizemos o primeiro ensaio com o Carlos. Sentimos que não poderia ter sido melhor a escolha.

2.Outras bandas que os integrantes participavam anteriormente do OEME eram numa pegada mais fast. O que levou para esse projeto?

R: Verdade, o Vinicius teve um projeto de vários anos muito mais rápido e agressivo, o Thiago também já deu seus gritos mais velozes, o Ramon se concentrava em um punk rock mais tradicional e o Carlos num hardcore old school. Achamos que não teve muito segredo sobre a nova ‘escolha’. Foram algumas conversas  enquanto escutávamos bandas que remetem ao som que fazemos hoje.

3. A banda leva no nome o pronome pessoal “Eu”, isso reflete um posicionamento individualista?  Nas letras existe esta questão do “Eu” em quase todas. Acham que a mudança ou revolução parte do indivíduo, que não é mais o caso de organizações políticas para transformar o mundo?

R: (Vinicius) Não só a questão do “Eu”, como a questão do “Você” e do “Nós” é abordado nas letras. Lógico, começando pelo nome da banda, temos na cara o “eu”, que muitas vezes é uma metáfora para algo inerente à construção do “nós”, como é o caso da musica “incentivo”, pensada sobre cena punk/hardcore. Mas sim, há o individualismo presente, que considero uma conduta importante para buscar conhecimento, novos valores, questionamentos, força, etc. Mas se, de algum modo, a revolução parte do indivíduo, acredito ser impossível sustenta-la como algo palpável sem ter uma organização conjunta para transformação. Falar de liberdade sem incluir os outros é egoísmo, não?

4. Como foi a pré-produção, a escolha da capa, ensaios, estudio, quanto tempo levou para construção desse excelente material gravado?

 R: Primeiro, obrigado pelo “excelente”, ficamos felizes. Tivemos muita ansiedade sobre como ficaria o resultado final. Quando entramos no estúdio, tínhamos ainda várias ideias de como tudo soaria e foi a prática que fez o que fez. Tivemos sorte de gravar em um estúdio de amigos, que deixou tudo mais confortável. Começamos em julho de 2009 e só no meio de 2011 tudo estava pronto. Acho que eles tiveram paciência também frente à nossa inexperiência e enrolações, leia-se Thiago furando horários hahah. Sobre a capa, pensamos em muitas coisas e chegamos a montar algumas. O Lauri também fez desenhos na época e a indecisão era grande. Acabou que um dia em conversas virtuais, o Vinicius falou disso ao amigo Kauê, de Campinas, que nos deixou livre para escolher alguma colagem dele. Ele é muito criativo e decidimos que o visual que buscávamos para o disco era aquele.

 

5. Guarapuava no início dos anos 2000 foi um celeiro de bandas hardcore-punk, havia uma cena, coisas aconteciam; o troço tava movimentado. Qual é a situação hoje em dia, a mulecada tá envolvida?

 R: Tem razão, existiam muito mais bandas, independente da sonoridade, ligadas ao hardcore-punk. As coisas giravam, de fato, em torno daquilo que chamamos de “cena”, havia uma interação maior. Uma vez chegamos a propor uma cooperativa horizontal das bandas, pra nos organizarmos juntos em todos os eventos e promover um fortalecimento daquilo que tínhamos. Infelizmente não houve continuidade, até por questão de rivalidades, o que é estúpido, se pensarmos que hoje praticamente não há uma cena. Quer dizer, ainda existem bandas,  mas que não conversam, ou que não tem mais uma preocupação de construir em cima dessa linha do faça você mesmo. E entenda, isso não é nostalgia. O fato que as sementes desse passado poderiam ter sido regadas com mais atenção. Muitas coisas e pessoas se dispersaram. Com erros ou sem erros, “que tal então incentivarmos o presente”?

6.O OEME tem se aprensentado relativamente bastante em festivais principalmente pelo Sul. Quais são os planos daqui pra frente?

 R: Continuar tocando sempre que possível para divulgar esse primeiro trabalho, conhecer mais pessoas, viver mais experiências como banda e em 2012 gravar um próximo com menos enrolações, antes que acabe o mundo. Temos a impressão que as musicas novas vão definir mais a nossa sonoridade, então há ansiedade.  Agradecemos o espaço mais uma vez. Obrigado e abraços.

Curitiba 28/08/2011

18/08/2011